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A linguagem do Natal

Expressões de Ano-Novo

Por Ari Riboldi *


Ano novo com o pé direito


Um novo ano de prosperidade, saúde, alegrias e realizações para todos. Os presentes passam, os gestos e boas ações deixam marcas para sempre.

Ano-Novo

Com hífen, designa a festa de passagem do último minuto da última hora do dia 31 de dezembro para a chegada de primeiro de janeiro, dando início aos 365 dias de um novo ano. Do latim “anus”, ano, e “novus”, novo. Equivale à festa de réveillon. Ano novo, sem hífen, designa o período inteiro dos 12 meses.

Champanha ou champanhe

O champanhe e o espumante fazem parte dos brindes de Boas Festas.

Champagne é uma denominação que só pode ser aplicada aos vinhos espumantes, geralmente brancos, produzidos na França, na região de Champagne, distante cerca de  150 quilômetros de distância de Paris. Graças a condições favoráveis do solo calcário e ao clima local, as uvas são ideais para a elaboração do espumante. O champagne foi descoberto por acaso pelo monge beneditino Don Pérignon, por volta do ano de 1650, mediante a dupla fermentação da uva.

O termo que foi aportuguesado como substantivo masculino, portanto o correto é dizer-se “o” champanhe; também se usa o champanha.

Por extensão, vinho semelhante ao produzido em Champanhe, mas oriundo de outras regiões vinícolas. Por respeito a direito de patente, os produzidos aqui, especialmente, na Serra do Rio Grande do Sul, são denominados “espumantes”.  Para os conhecedores da matéria e apreciadores, são de excelente qualidade, equivalentes aos franceses.

Pelo fato do emprego reiterado, mesmo entre as pessoas cultas, da forma feminina “a champanha”, creio que, em breve, as duas formas serão aceitas, pois o uso acaba legitimando aquilo que, na gramática, seria um erro. Afinal, a linguagem sofre constante variação, de acordo com os falantes, cabendo à gramática e aos dicionários fazer o registro. Além disso, apesar dos acordos e leis de patentes, o povo continuará chamando o espumante com o nome de champanha ou champanhe. Faz parte da tradição. Os brindes continuarão sendo feitos, para celebrar festas, aniversários, vitórias e conquistas, tinindo copos com champanhe, independente de sua procedência.

Crendice

O mesmo que superstição. Temor sem fundamento de quem é crédulo, do verbo latino “credere”, confiar, crer, dar crédito, emprestar. De “credere” deriva também a palavra crédito.

Eis alguns exemplos de crendices populares de mau agouro: o número 13, a sexta-feira 13, passar embaixo de escada, matar sapo, quebrar espelho, gato preto atravessar na frente de uma pessoa, pio de coruja, derramar açúcar ou sal, levantar com o pé esquerdo.

Entrar com o pé direito

Faz parte das crendices e superstições. Comece bem o novo ano, com o pé direito. Há muita gente que, ao levantar da cama, primeiro põe o pé direito no chão. Age da mesma forma ao subir em ônibus ou descer dele. Na crença popular, significa começar bem, começar de forma feliz. O pé esquerdo lembra o sinistro, a infelicidade, a desgraça.

A superstição vem desde a Roma antiga: os convidados eram instruídos a entrar nos recintos com o pé direito, chamado, em latim, “dextro pede”, a fim de evitar o azar. Pelas dúvidas, nada custa seguir a tradição, a não ser que você seja totalmente incrédulo e imune a qualquer superstição.
 
Presságio

Do latim “pressagium”, conhecimento antecipado, pressentimento, agouro, previsão. No sentido original, em latim “sagus” significa que tem faro apurado, aplicado aos cães. Por extensão, diz-se das pessoas com o dom de profecia, de mágica, de adivinhação. O prefixo latino “pre” equivale a antes.

Prosperidade

Abundância, fartura, riqueza, fortuna, ventura, Do latim “prosperitas”, ventura, boa saúde, termo derivado de “prosperus”, feliz, ditoso, venturoso.

Réveillon

Estrangeirismo, do francês, significa ceia da meia-noite, passagem de ano. É derivado do verbo francês “réveiller”: acordar, despertar, reanimar. Nome que designa a tradicional festa, na passagem da noite de 31 de dezembro para o primeiro dia de janeiro, para celebrar a chegada de um novo ano, com ceia, bebidas, música, danças e o estouro de foguetes.

Superstição

Sentimento fundado no medo e na ignorância e que leva ao conhecimento de falsos deveres, ao receio de ações sobrenaturais e à confiança em coisas ineficazes, absurdas e ridículas. O mesmo que crendice. Do latim “super”, sobre, acima, e “stare”, estar, ou seja, estar sobre ou acima de.

Receita de Ano Novo (Carlos Drummond de Andrade)

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

* Professor e escritor
  aririboldi@terra.com.br
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