Considerado um dos mais importantes ícones da música gaúcha, entre o final dos anos 1960 e o início dos 1980, por seu trabalho de compositor e por sua atuação como líder cultural, Carlos Alberto Weyrauch Hartlieb, conhecido como Carlinhos Hartlieb nasceu em Porto Alegre, no dia 28 de março de 1947. Filho de imigrantes alemães, seu avô paterno, Theodoro, dirigiu a Casa Hartlieb, pioneira no comércio de instrumentos musicais, partituras e discos na Porto Alegre do século 20. Aos 16 anos, Carlinhos ganhou de seu pai o primeiro violão, e logo comprou um baixo acústico. Interessado pela natureza, especialmente pelo mar e pelas aranhas, em 1967 foi aprovado no vestibular para História Natural, na UFRGS, mas não concluiu o curso. Dois anos depois, transferiu-se para São Paulo e começou a estudar Comunicação, na USP. O curso também não foi concluído, pois a música e o teatro falaram mais alto.
Em 1969, Hartlieb voltou a Porto Alegre para participar do Festival Universitário de Música de Porto Alegre, onde cantou ao lado da principal banda de rock da cidade na época, o Liverpool. O primeiro lugar no Festival veio com a música "Por favor, sucesso". A vitória o classificou para o III Festival Internacional da Canção, no Rio de Janeiro. Na sequência, o grupo Liverpool que o acompanhava, gravou no Rio o LP "Por favor, sucesso", considerado o primeiro álbum de uma banda de rock gaúcha. Carlinhos voltou a São Paulo e passou a trabalhar no Teatro Oficina.
Já no Teatro Universitário da Faculdade Católica de São Paulo - Tuca, conheceu parceiros musicais com quem viajou pela América Latina, em 1970, para a montagem de Morte e Vida Severina, poema de João Cabral de Melo Neto, musicado por Chico Buarque. A experiência no Tuca valeu o convite do diretor José Celso Martinez Corrêa para que integrasse o Teatro Oficina. Em 1972, de volta a Porto Alegre, montou seu primeiro show, "Sempre é assim", no Teatro de Câmara. No ano seguinte começou a trabalhar com o diretor teatral Luiz Arthur Nunes. Em 1974 apresentou o espetáculo "Toque".
No início de 1975, Carlinhos passou a organizar e produzir as "Rodas de som" do Teatro de Arena, sempre nas sextas-feiras à meia-noite, apresentando novos nomes da música gaúcha: Bixo da Seda (nova formação do Liverpool), Bebeto Alves, Nelson Coelho de Castro, Mutuca, Mauro Kwitko, etc. O evento se tornou um sucesso. Centenas de pessoas se apertavam no Teatro de Arena e outra centena se empilhavam do lado de fora tentando entrar. Em julho, montou o espetáculo "M"boitatá, a serpente da luz", com música e dança, a partir da lenda da cobra de fogo, fixada por João Simões Lopes Neto. Em 1976, apresentou-se com o show "Sonho campeiro" e, no ano seguinte, com "Voltas".
Na segunda metade dos anos 70, Carlinhos solidifica seu trabalho de compositor e seu estilo, mescla rock, MPB e folclore gaúcho em espetáculos como M’Boitata e Sonho Campeiro, apresentado em 37 cidades, com apoio da Secretaria de Educação e Cultura. Em 1978, Carlinhos participou com duas músicas ("Admirado por todos" e "Maria da Paz") do disco coletivo "Paralelo 30", considerado um marco da música pop gaúcha, ao lado de Nelson Coelho de Castro, Bebeto Alves, Raul Ellwanger, Cláudio Vera Cruz e Nando Dávila. Em 1979, seu espetáculo musical, apresentado no auditório do Instituto de Artes chamou-se "Deem ao homem sete dias".
Ainda em 1979, passou a trabalhar como produtor na Secretaria de Cultura do Estado, onde idealizou e organizou o Projeto Lupicínio, em que músicos gaúchos se apresentavam ao ar livre, na esquina entre a Rua da Praia e Avenida Borges de Medeiros (espaço que mais tarde veio a ser conhecido como "esquina democrática"). Em 1980, produziu uma caravana de músicos gaúchos até São Paulo, para apresentações no Teatro Ruth Escobar. Em 1981, passou a dirigir a Discoteca Pública Natho Henn. No ano seguinte, organizou nova caravana de músicos gaúchos, desta vez no Rio de Janeiro, no Teatro João Caetano.
Paralelamente ao seu trabalho institucional, Carlinhos seguiu compondo e se apresentando: nos shows solo "Tempo de borboleta" (1981) e "Só sai se não chover" (1982), além da parceria com Pery Souza em "Encontro das águas" (1982); e ainda fazendo a direção musical dos espetáculos de teatro, "O Cabaret de Maria Elefante" (1981), de Ivo Bender, e "Pode ser que seja só o leiteiro lá fora" (1983), de Caio Fernando Abreu, com direção de Luiz Arthur Nunes.
Ainda em 1983, demitiu-se da Secretaria de Cultura e passou a trabalhar na gravação de seu primeiro álbum individual, que se chamaria "Risco no Céu". Concluídas as gravações em novembro, no estúdio ISAEC, foi ao Rio de Janeiro para tentar que uma grande gravadora assumisse o lançamento do disco, mas não foi bem sucedido.
No verão de 1984, Carlinhos Hartlieb foi passar uns dias em sua cabana na Praia do Rosa, em Santa Catarina, antes de retomar a busca por uma gravadora que lançasse seu trabalho. Na noite de 29 de janeiro, em uma festa com amigos, cantou e tocou violão até de madrugada. Seu corpo foi encontrado no dia 3 de fevereiro, enforcado, dentro da cabana. As circustâncias da morte nunca foram totalmente esclarecidas e a polícia catarinense optou pela tese de suicídio, mesmo havendo evidências de assassinato.
Homenagens
Dois anos após a sua morte, em 1986 a Editora Tchê lançou o livro "Carlinhos Hartlieb", de Jimi Neto e Rossyr Berny, volume 31 da coleção "Esses Gaúchos". O LP "Risco no Céu" só foi lançado em 1988, pela gravadora Nova Trilha, mas devido a pequena tiragem acabou tornando-se objeto de colecionador. Porém, em 2004, com apoio de amigos, instituições e empresas, como a CEEE e a Prefeitura de Porto Alegre, o disco foi relançado como CD, com nova mixagem e seis faixas bônus, entre elas Maria da Paz, Sonho Campeiro e Por Favor, Sucesso, esta última na gravação original com Liverpool.
Ainda em 1988, a Universidade de Harvard reconheceu uma nova espécie de aracnídeo, a partir de um espécime que havia sido coletado por Carlinhos 25 anos antes, no Morro Santa Teresa, em Porto Alegre, e que foi registrado como Alpaida Hartliebi. Em fevereiro de 1994 foi inaugurada em Porto Alegre a Praça Carlinhos Hartlieb, no bairro Farrapos. Em 2008, a RBS TV apresentou, na série Histórias Curtas, o documentário "Um Risco no céu", dirigido por René Goya Filho, sobre a vida e a morte de Carlinhos Hartlieb. O documentário ganhou cinco Prêmios Histórias Curtas, inclusive o de melhor episódio do ano .