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A linguagem do Natal

Bruster, chester, peru e outros nomes

Por Ari Riboldi *

Em tempos de festas, confraternizações e ceias, vamos decifrar e "digerir" a origem e a constiuição de algumas palavras, expressões e ditados próprios do momento. Bom proveito e boas festas a todos.

Amigo-secreto e amigo-oculto

Espécie de sorteio entre amigos, colegas de trabalho ou familiares, no qual os participantes trocam presentes entre si. Do latim “amicu”, amigo, e “secretum”, isolado, secreto, oculto, escondido. Da raiz “secretrum” deriva a palavra secretária, no sentido original, a que guarda segredo. São atributos profissionais de secretária ou secretário ser discreto e guardar sigilo, não expondo o seu superior, a não ser em caso de delito.

Em várias regiões do país, emprega-se amigo-oculto em vez de amigo-secreto

Árvore de Natal

Durante o tempo do Natal, em dezembro, a Europa encontra-se no rigor do inverno. Muitas regiões ficam cobertas de neve e as árvores perdem as folhas. A mais resistente é o pinheiro cujos galhos permanecem verdes. Por essa razão, foi a árvore escolhida para ser enfeitada, nas casas e igrejas, como símbolo da alegria das festas natalinas.

Bruster

Espécie de galinha resultante de cruzamento de aves da linhagem “Ross”. Patenteado, o bruster é marca registrada. Como o chester, o mapeamento genético faz parte de sigilo comercial, o que garante a exclusividade, o retorno do alto investimento em pesquisa e mais lucros. Mesmo sendo uma espécie de galinha, ninguém nunca viu ou teve acesso a um ovo dessas espécies. Sua alimentação é exclusivamente vegetal. Depois de sessenta dias, atinge, em média, três quilos e meio de peso. É quando a ave é abatida a vai para o consumo. Para se ter uma referência, um frango normal, criado em granja, é abatido perto do quadragésimo quinto dia de vida, quando atinge em torno de dois quilos e meio. 

Chester

Espécie de galinha que apresenta um desenvolvimento do peito e das coxas bem mais que outras aves. Trata-se de mutação resultante de engenharia genética. Constitui-se, inclusive, em marca patenteada, por empresa do ramo, que desenvolveu a experiência exitosa e comercializa o produto com exclusividade. Termo do inglês “chest”, peito, mais o sufixo er. Graças à engenharia genética, o peito e as coxas concentram setenta por cento da carne da ave. Com uma dieta basicamente de ração de milho e soja, a carne apresenta um baixo teor de gordura, o que a torna apreciada. Embora as informações façam parte do segredo do negócio, o chester resulta do cruzamento de, no mínimo, oito diferentes tipos de aves, da espécie “Gallus”, originárias da Escócia. É abatido quando atinge sessenta e dois dias de vida, com um peso médio de quatro quilos e trezentos gramas.

Missa do galo

Missa solene, na passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro, que celebra o Natal, o nascimento de Jesus. Pelo horário, fica associada ao canto do galo que, em meio à madrugada, anuncia a chegada do novo dia, da aurora, da boa nova.

Na verdade, atualmente só resta a expressão “missa do galo”, pois a mesma não mais é rezada à meia-noite, o que era rigorosamente seguido em tempos mais antigos. Se o padre continuasse celebrando a missa a partir da meia-noite, ficaria na igreja apenas com seu fiel sacristão, talvez também contrariado, e alguns beatos seguidores. Os demais estariam, com certeza, trocando presentes, sendo visitados pelo Papai Noel e fartando-se na dita ceia de Natal, devorando o galo ou o peru.

O padre, já sem o canto do galo, para não perder também os fiéis e as delícias da ceia, prudentemente antecipa o horário da missa para as 18, 19 ou 20 horas do dia 24 de dezembro. Quem acaba pagando o pato é o galo e o peru, pois ambos são mortos na véspera.

Natal  

Palavra proveniente do latim como forma reduzida de “natalis dies”, isto é, dia do nascimento, com a celebração cristã do nascimento de Jesus. De “natalisciu” veio o termo natalício, a data natalícia, a do aniversário de cada pessoa; não confundir com data natalina, a que lembra o Natal.

Originalmente, o Natal era uma festa pagã consagrada ao Sol, celebrada pelos povos, no hemisfério Norte, no período em que o sol atinge o maior grau de distanciamento do Equador (solstício) – de 21 a 23 de dezembro, em pleno inverno. Mais tarde, foi substituída pelas comemorações cristãs ligadas ao nascimento de Jesus. A fixação da data em 25 de dezembro ocorreu, no século IV, com o papa Júlio I.

Panetone

Do italiano “panettone”, bolo de massa fermentada, feito com farinha de trigo, ovos, leite, manteiga, açúcar, frutas cristalizadas e passas. Pão doce muito consumido, em quase todo o mundo, nas festas natalinas e de Ano Novo. Surgiu na região de Milão, na Itália.

Alguns explicam o termo como sendo a junção de “pane” e “Toni”, este último termo como apelido do nome italiano Antônio, pois teria sido o padeiro Toni, da cidade de Milão, quem inventou o referido pão com frutas, numa tentativa de aumentar as vendas. Trata-se de uma versão bastante difundida, mas não passa de uma lenda. Para os estudiosos da língua, a palavra vem do dialeto milanês “panattón”, que passou para o italiano como “panettone” e, depois, adaptada para o português como panetone. É um pão fortificado, tonificado, acrescido de ingredientes para torná-lo mais nutritivo.

Papai Noel

A tradição do Papai Noel vincula-se a São Nicolau, bispo que viveu na Turquia entre os anos 280 e 345. Sua vida é cercada de lendas que o retratam como pessoa de grande bondade e que dava muitos presentes. Após sua morte, começou a ser cultuado por toda a Europa. É o padroeiro da Rússia, onde tem o nome de Nicolas. Os reformadores nórdicos do século XVI, contrários à devoção aos santos, fizeram a substituição de São Nicolau pela figura do Papai Noel: mantiveram as roupas vermelhas de bispo e colocaram-lhe o gorro, na cabeça, no lugar da mitra.

Segundo a tradição popular, ele parte do Polo Norte, coberto de neve, em cima de um trenó cheio de presentes e puxado por renas, na velocidade do pensamento, passando de casa em casa para entregar presentes às crianças que durante o ano foram obedientes. A tradição de dar presentes também encontra inspiração na história dos três reis magos (Belchior, Baltazar e Gaspar), contada no Evangelho. Eles vieram do Oriente e seguiram a estrela até o Menino Jesus, presenteando-o com ouro, incenso e mirra.

A palavra Noel vem do francês e significa Natal.

Peru

Grande ave galinácea. A origem da palavra é cercada de controvérsias. Segundo alguns estudiosos, a ave recebeu esse nome em Portugal como topônimo, por acreditarem que era originário do Peru, nome que significaria galo do Peru. Entre os portugueses, o país Peru exercia tal atração a ponto de ser confundido como se fosse sinônimo da América Espanhola. Na verdade, o peru é originário dos Estados Unidos e do México, onde vivia em estado selvagem e dali levado para o resto mundome de perua, feita com a mistura de álcool e suco de cana.


* O Professor Ari Riboldi é colaborador do PortoWeb Cidadão,
responsável pela coluna A Origem de Palavras e Expressões.
A coluna traça um paralelo entre o significado literal e o
sentido figurado de palavras e ditos populares, buscando
as raízes de expressões usadas até hoje.

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