1) Expressões regionais do pampa:
A la fresca - Expressão para manifestar espanto, surpresa, admiração O mesmo que “a la pucha”.
À moda miguelão - Dize-se de algo feito de qualquer jeito, sem capricho, sem nenhum cuidado, apressadamente.
À ponta de faca - Ao pé da letra; de forma radical, sem concessões, sem meias palavras, sem meio-termo.
Aspa-torta - Sujeito arruaceiro, desordeiro, metido a valentão, que está sempre metido em confusão.
Arranca-rabo e rabo de cavalo - Briga, entrevero. O rabo de cavalo é um penteado em que se atam os cabelos longos com elástico ou fitas no alto da cabeça, deixando-os pender à semelhança de um rabo de cavalo.
O arranca-rabo é confusão, disputa, desavença, discussão, briga onde ninguém se entende. Durante um arranca-rabo entre mulheres, por vezes, uma delas pode ter o rabo de cavalo arrancado. Quando chegam às vias de fato, geralmente as mulheres agarram-se pelos cabelos umas das outras e não os soltam de jeito nenhum. E o que pode acontecer se uma delas tiver um penteado rabo de cavalo com cabelo de aplique? Acabará perdendo o rabo e, provavelmente, também a briga. Entre os povos antigos, cortar a cauda de animais, particularmente de equinos, era troféu de guerra de inestimável valor. Arrancar o rabo do cavalo do inimigo, do chefe adversário, era uma grande proeza, festejada por todos, e demonstração de rara coragem.
Lavar a égua - A expressão tem origem no turfe, o esporte dos reis e da nobreza. Quando a égua ganhava uma corrida, dando lucro ao dono, este a retribuía com um banho de champanhe. Era um gesto de gratidão e de cavalheirismo do proprietário vencedor para com a fêmea. Se o vencedor fosse um macho, seu destino era voltar à cocheira com o suor do esforço da corrida, porém sem o banho de champanhe, privilégio das fêmeas. É claro que o sentido não se aplica mais ao hábito de banhar o animal. Lavar a égua significa, atualmente, ter uma grande satisfação, conquistar uma grande vitória. Obter um grande lucro advindo, normalmente, do jogo.
Marca diabo - No Brasil, especialmente no Sul, “marca diabo” virou expressão popular para coisa fadada ao fracasso, negócio natimorto. O responsável por isso é João Simões Lopes Neto, que montou uma fábrica de cigarros, em Pelotas, cuja marca era Diabo. Fez pouco sucesso e faliu. No Rio Grande do Sul, “marca diabo” designa cigarro ruim ou qualquer outro produto de procedência duvidosa.
Pelo-duro - Termo regional gauchesco, não registrado nos dicionários de linguagem formal e culta. Como adjetivo, designa o cavalo resultante do cruzamento de várias raças, ou seja, o que não é mais puro.
Possui também o sentido de gaúcho autêntico, crioulo, genuinamente rio-grandense, Tem a acepção, ainda, de pessoa ou animal sem estirpe (sem raça definida, pangaré, vira-lata). Normalmente, refere-se ao habitante nativo do Rio Grande do Sul - e não ao imigrante ou seu descendente. Versões sobre a origem da expressão:
a) pelo-duro por não pertencer a uma raça definida. No caso dos animais, como o cavalo, são as espécies nativas e resultantes de cruzamentos de outras raças. No caso do ser humano, é o nativo, o crioulo (na linguagem gauchesca), o que não é espanhol nem alemão ou italiano ou de outra raça de imigrantes.
b) pelo-duro, tanto para o homem nativo ou animal, porque é resultante do cruzamento de várias raças e se adaptou ao clima local, acostumado às intempéries, ao frio, ao vento, etc. Traz a ideia de que possui pele mais dura, mais resistente.
O termo presta-se, ainda, a uma conotação mais pejorativa e preconceituosa, dando a entender que o pelo-duro é um indivíduo mais rude, grosso, de educação menos refinada.
Preteou o olho da gateada - De acordo com o registrado nos dicionários, gateada pode referir-se à cor dos olhos amarelo-esverdeados, semelhantes aos de um gato; pode também ser a cor do pelo de cavalo ou égua, uma pelagem de cor amarelo-avermelhada, portanto não bem definida. No tocante aos olhos, significa que são vivazes e inquietos. Emprega-se, no sentido figurado, para representar situação complicada, em que alguém se encontra em extrema dificuldade ou em disputa muito acirrada. Na linguagem popular, a pessoa está numa enroscada. Se a cor da pelagem ou dos olhos do animal não estava bem definida, ficou ainda mais obscura e incerta, ou seja, preteou.
2) Frases típicas da linguagem regional do gaúcho:
Estar a meia guampa - Estar um pouco embriagado.
Estar com a barriga no espinhaço - Muito magro e com fome.
Estar como carancho em tronqueira - Muito triste, aborrecido.
Estar de aspa torta - De mau humor.
Estar na canga - Estar preso ou dominado por mulher.
Lambe-esporas - Indivíduo bajulador, adulador. O mesmo que puxa-saco.
Negar o estribo - No sentido literal, retrata o momento em que o cavaleiro tenta pôr o pé no estribo do cavalo, mas este se afasta e recusa ser montado. Aplica-se a pessoa que não cumpre promessa, faltando com a palavra dada.
3) Adágios gauchescos – definição e uso:
Afiada que nem dentada de traíra - Faca cortante, bem amolada. Pessoa sempre pronta para atacar. O mesmo que: Afiada que nem língua de sogra.
Agarrado como carrapato em costela de boi gordo - Pessoa que, por afeto, está sempre por perto, tornando-se inoportuna.
Bagaceiro que nem papagaio de zona - Indivíduo que só usa palavrão.
Cheio que nem guaiaca de turco - Muito rico.
Cheio que nem penico de velha - Pessoa chata, antipática, inconveniente.
Mais frio que barriga de sapo - Pessoa indiferente, insensível, desumana.
Metido que nem piolho em costura - Sujeito intrometido, que se mete em assunto que não lhe diz respeito.
4) Ditados típicos do gaúcho:
Cachorro comedor de ovelha, só matando - Diz-se de pessoa que não perde um vício, tal qual cachorro que tem a mania de atacar as ovelhas e matá-las para saciar a fome, causando enorme prejuízo ao proprietário. Normalmente atribui-se a homem mulherengo.
Duro como carne de pescoço - Aplica-se a pessoa demasiado teimosa, irredutível, que defende suas convicções ferrenhamente e jamais cede. Expressões com o mesmo sentido: duro de boca, duro de queixo. No caso das expressões, originam-se do comportamento do equino que não atende ao comando das rédeas puxadas pelo cavaleiro.
Frio de renguear cusco - Ditado popular próprio da região da campanha do Rio Grande do Sul, para expressar dia de frio intenso. Renguear significa claudicar de uma pata traseira, ao passo que mancar é específico de pata dianteira. O cusco, no dicionário do gaúcho, é cão pequeno de raça indefinida. Em manhã fria de inverno, de muito frio, o orvalho endurece e cria uma camada dura de gelo, a geada, que se estende sobre a vegetação. O cão, usado na lida do campo, sente tanto frio nas patas que caminha devagarzinho, mantendo ora uma pata traseira elevada do chão, ora a outra, evitando o contato com o gelo por mais tempo, dando a impressão, para quem o olha de longe, de que o mesmo esteja rengo.
Ovelha não é pro mato - Usa-se para retratar a situação de alguém que faz um trabalho todo errado por não ter o perfil adequado para a função. Trata-se de uma atividade para a qual ele não leva o menor jeito. É como se quiséssemos criar uma ovelha no meio do mato. Não é o ambiente próprio para ela. Precisa de grama, em área aberta. No mato, vai estragar a lã, espinhar-se, contrair doenças, sem encontrar a comida ideal: a nutritiva grama.
Praga de urubu não mata cavalo gordo - Emprega-se para dizer que não se deve ter medo de ameaças ou pragas vindas de pessoas movidas pela inveja, cujo objetivo é tirar o lugar da gente. Representa atitude de invejosos e que por isso mesmo não deve ser levada em conta. É praga que não pega, que não liga, que não surte efeito.
5) Ditados sobre o cavalo:
A cavalo dado não se olha o dente
Cavalo bom e homem valente, a gente já conhece na chegada.
O olho do dono é que engorda o cavalo
Praga da urubu não mata cavalo gordo
Pra quem tem cavalo esperto, toda lonjura é perto
Quem fala demais acaba dando bom-dia a cavalo
Quem faz o cavalo é o dono
6) Dez tipos de cavalo:
O gaúcho e o cavalo são companheiros inseparáveis. Estão juntos na lida de campo, nos deslocamentos pelas fazendas, na hora de ir ao bolicho, na carreira de cancha-reta.
Abagualado - Cavalo recém domado, portanto ainda meio chucro, que se assusta por qualquer motivo. Aplica-se a pessoa grosseira, sem cultura, de modos abrutalhados.
Alazão - Cavalo com pelo cor de canela, com uma tonalidade simultaneamente castanha e avermelhada.
Aporreado - Cavalo mal domado, que ficou cheio de manhas, e com isso não serve para a lida. Apesar do esforço do domador, o animal não ficou manso. Serve para adjetivar pessoa que não se adapta à sociedade, avessa aos costumes.
Cavalo de cego - Cavalo que tem a mania de parar em todas as porteiras, parecendo que o cavaleiro está a pedir esmola de casa em casa.
Cavalo do comissário - Cavalo que nunca perde uma carreira, uma vez que seu dono é o comissário de polícia. Na verdade, ninguém se atreve a ganhar do cavalo do comissário por medo da autoridade policial.
Cavalo solto das patas - Cavalo bom de corrida, que corre muito.
Gavião - Cavalo matreiro, arisco. Que não se deixa pegar facilmente. Por associação, aplica-se gaviona a mulher muito difícil de ser conquistada, tal como égua arisca.
Malacara - Equino que, não sendo totalmente de pelo escuro, apresenta uma listra branca na testa, do focinho até o alto da cabeça. Aplica-se, figuradamente, a indivíduo de mau aspecto.
Maleva - Cavalo que corcoveia por qualquer motivo. Aplica-se, simbolicamente, para indivíduo malfeitor, genioso, rancoroso, bandido, malvado.
Pangaré - Equino ou muar de pelo mais claro do que o douradilho, com a parte inferior da barriga e as regiões entre os membros e embaixo do pescoço de cor esbranquiçada; cavalo ordinário e inútil; cavalo magro ou de pequeno porte. Segundo Antenor Nascentes, a palavra vem do espanhol platino "pangaré", com o sentido de cavalo de cor de leão ou veado (amarelo desbotado), manso e bom para montaria. No nosso meio popular e regional, passou também a designar, de forma pejorativa, indivíduo sem qualificação para um ofício, jogador sem habilidade, sujeito simplório.