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03 de Novembro - Dia do Barbeiro/Cabeleireiro
Chegar a Barbearia Fígaro pode não ser fácil para um visitante desavisado. Fica na rua da Ladeira, que não existe no mapa. Chama-se General Câmara. Mas os fiéis clientes da Barbearia Fígaro conhecem muito bem o caminho.
Instalada no mesmo endereço há mais de 60 anos a barbearia é um ponto de referência no centro de Porto Alegre.
Com suas cadeiras de ferro com assentos forradas de couro, estribos e encosto a decoração antiga pode sugerir que o lugar parou no tempo. Mas os homens que a freqüentam todo o dia sabem que não é assim.

“Venho aqui há muitos anos, a única coisa que continua igual são as cadeiras, a qualidade do serviço e a mão precisa de Seu João”, afirma um cliente.
Para o Sr. João Francisco Caballero é mais que um local de trabalho. Atuando como barbeiro há 45 anos, Seu João está a mais de 40 na Fígaro, que adquiriu de seu antigo proprietário há duas décadas.
Durante esse tempo viu muitas coisas mudarem no seu ramo. Viu modas e manias irem e virem. Aposentou as navalhas para usar lâminas descartáveis. Fez a barba de muita gente importante, como deputados e governadores. E acima de tudo, fez muitos amigos.
“A relação que se cria entre o barbeiro e seu cliente tem que ser de cumplicidade”, ensina. “É preciso que haja confiança. Ao longo do tempo essa relação se torna amizade, que pode durar uma vida inteira”, completa.

Tanto é assim que há cliente seus já idosos, sem condições de subir a ladeira. Prontamente Seu João coloca seus apetrechos em uma maleta e vai até a residência do amigo. “Não vou deixá-los na mão”, avisa.
O experiente barbeiro afirma que esta é parte mais gratificante do seu trabalho. “Adoro conversar, e aqui tenho a oportunidade de conhecer pessoas diferentes, debater sobre todos os assuntos”, conta.  “Nenhum dia é igual ao outro”, garante.
Apesar de fiel, a clientela tem diminuído. Seu João afirma que a concorrência é grande e tem uma explicação para o grande número estabelecimentos que apareceram nos últimos tempos. “Com o desemprego crescendo a todo ano, as pessoas resolveram buscar uma área que acreditavam ser de fácil formação. Surgiram muitos cursos de corte de cabelo e estas pessoas chegam no mercado cobrando 4 ou 5 cruzeiros o corte”, afirma.

Seu João cobra R$ 12,00 o corte e diz que não pode cobrar menos. “Tenho um custo alto aqui. O cliente paga um pouco mais mas tem a certeza de um atendimento de primeira”, justifica.
Na verdade é mais que isso. As barbearias estão sumindo do mapa com a multiplicação dos salões unissex. Além disso, clientes jovens, que poderiam manter a tradição, preferem pagar mais caro em locais “da moda”. Para completar, o bigode caiu em desuso entre os homens mais jovens.

Seu João, ostentando um bem aparado bigode branco ajeita mais um cliente na cadeira. Passa-lhe a espuma e com maestria desfila a lâmina pelo rosto, em movimentos ritmados, que mais parecem uma dança, tal qual o barbeiro de Sevilha. Só então me dou conta do porque do nome. Era assim que se fazia barba, cabelo e bigode.


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