Em defesa das corujas do centro
Símbolo da sabedoria, da filosofia e da pedagogia devido à inteligência, astúcia, sensibilidade, visão e audição acuradas, as corujas estão entre as aves de rapina protegidas por lei em vários países. No Brasil, a caça e comercialização deste animal são proibidas pela lei de proteção à fauna silvestre.
Em Porto Alegre, a presença de algumas corujas tem perturbado o descanso dos residentes do Centro. Após diversas reclamações dos moradores a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam), através do Programa de Conservação de Fauna Silvestre, iniciou em junho, um trabalho para diagnosticar a situação da população de corujas da espécie Tyto Alba nos arredores da Praça Marechal Deodoro (Praça da Matriz). Aninhadas no topo dos prédios, caçando ratos e morcegos, as aves são antigas habitantes da região. No entanto, é possível que sua população tenha aumentado nos últimos anos.
Até dezembro, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente fará o levantamento dos ninhos e dos hábitos alimentares dessas aves. Simultaneamente, a secretaria pretende pesquisar a opinião dos moradores e conscientizá-los da importância ecológica da espécie.
A coordenadora do Programa de Conservação de Fauna Silvestre da Smam, Soraya Ribeiro, lembra a função das corujas para o equilíbrio ambiental: “O inconveniente é superado, pois as corujas se alimentam dos roedores e morcegos que transmitem doenças ao homem”.
Segundo ela, as corujas se reproduzem três vezes por ano, e os ruídos que geraram as reclamações devem cessar ou ao menos diminuir significativamente em 30 ou 40 dias, período que abrange da colocação dos ovos à independência dos filhotes.
Uma das causas da grande concentração de corujas no centro pode ser o crescente número de ratos, decorrentes do acúmulo de restos de alimentos e lixo. Para evitar a proliferação de roedores, Soraya explica que é importante que a população separe o lixo e não coloque sacos na calçada, e sim em tonéis com tampa. “Além disso, é preciso manter a caixa de gordura limpa, e o sistema de esgoto funcionando”, diz.
Depois de comer, as corujas regurgitam o que não podem digerir. O material colhido pela equipe da Smam será estudado para ver que alimentos são estes. “O objetivo é dimensionar o problema para definir ações com foco na preservação dos animais e na limpeza urbana”, ressalta Soraya.
CuriosidadesExistem várias espécies de corujas. As mais comuns são as Tyto Alba, mocho-orelhuda, buraqueira e coruja-do-mato. A Tyto Alba é conhecida popularmente como coruja-de-igreja ou suindara, e é uma das espécies mais comuns no Brasil. Além da fama de boa caçadora, tem os ouvidos extremamente apurados, sendo capaz de apanhar um rato vivo sob total escuridão. Para não ser ouvida enquanto ataca, a coruja tem asas com forma e penas especiais, que emitem o mínimo possível de som durante o vôo.
Os roedores são suas principais fontes de alimento. Entre eles o Bolomys lasiurus, um dos hospedeiros do hantavírus, que pode transmitir infecções humanas através da inalação de aerossóis de partículas virais, formados a partir de excretas de roedores infectados. A coruja também come morcegos, anfíbios, lagartos, cobras e pequenas aves. Tem hábito noturno e procura abrigo em celeiros, galpões, sótãos e torres de igreja.
A espécie mede cerca de 40 centímetros e a envergadura de suas asas pode chegar a 90 centímetros. Como não consegue mover os olhos, a coruja desenvolveu enorme flexibilidade no pescoço, girando até 270º e praticamente conseguindo ver o que está acontecendo atrás de si sem mover o corpo.
São características comuns a cabeça branca em forma de coração e o pio esganiçado e forte. O ruído lembra o de um tecido rasgado com força, o que lhe valeu o apelido de rasga-mortalha. Tem outro piar mais agudo e repetitivo para acasalamento. Se surpreendida no seu esconderijo, faz um som e estalos com o bico ou possivelmente com a língua. O alarme é um grito agudo e violento, relativamente prolongado. As crias emitem um som de pedido como de um ressonar ruidoso.