As Caras da Cidade - 9 - Ilhas do Delta do Jacuí

As 16 ilhas sob a jurisdição de Porto Alegre, num total aproximado de 4.500 hectares (ha), fazem parte do Parque Estadual Delta do Jacuí juntamente com as demais ilhas de municípios vizinhos. Localizadas na parte frontal ao centro e ao cais Marcílio Dias, configuram um dos principais ecossistemas da formação planície costeira do Estado e sua preservação é uma das mais importantes tarefas no processo de desenvolvimento urbano sustentado, impondo-se a manutenção de seus valores paisagísticos e a utilização apropriada de seu potencial de uso.

As cheias paralisam anualmente quase todas as atividades humanas nestas ilhas, tanto as urbanas, como as rurais: as habitações ficam bloqueadas, as estradas submersas e intransitáveis, as escolas fechadas e o gado é transportado para áreas seguras em terrenos continentais. Estes fatos evidenciam não só a precariedade da maioria dos assentamentos existentes, como também a necessidade de disciplinar a sua ocupação. 

A presença humana no delta remonta ao início do século passado nas ilhas da Pintada e Flores, estendendo-se, após, pelas demais ilhas de forma mais ou menos uniforme. Até os anos 50, sua importância econômica deveu-se ao conjunto de atividades pesqueiras, agrícolas, industriais e comerciais, desenvolvidas em todas as ilhas, suprindo as necessidades da Porto Alegre de então. Modificações circunstanciais às áreas do delta e outros aspectos ligados ao crescimento de Porto Alegre fizeram com que aquele tipo de economia fosse perdendo, ao longo dos anos, sua importância e até desaparecendo como forma de exploração econômica. 

Hoje, as ilhas apresentam ocupações diferenciadas entre si, decorrente basicamente da facilidade de acesso representada pela Travessia Regis Bitencourt, que propiciou a intensificação da ocupação nas ilhas envolvidas. Entretanto, se por um lado esta ligação rodoviária entre as ilhas e o continente possibilitou àquela população exercer atividades no mercado de trabalho mais diversificado, que é o Centro da cidade, por outro, desta situação resultaram vários problemas ambientais em função da ocupação urbana desordenada em áreas geologicamente impróprias.

Assim, os assentamentos populacionais nas ilhas Grande dos Marinheiros, das Flores, Pavão e da Pintada, surgidos espontaneamente, concentram aproximadamente 90 % da população das ilhas. Nas três primeiras, as vilas populares apresentam precariedade de infra-estrutura urbana, ocupadas na sua maioria por população de baixa renda, em casas de baixo padrão construtivo. A exceção se apresenta junto a Rua dos Pescadores na Ilha das Flores, onde predominam as residências de alto padrão construtivo, com utilização para o lazer, aproveitando o potencial locacional e paisagístico. 

A Ilha da Pintada, com estruturação urbana originada de uma vila de pescadores, hoje constitui-se num dos agrupamentos urbanos mais agradáveis de Porto Alegre, apresentando baixa densidade populacional e adequada infra-estrutura em função de recentes investimentos públicos. É o único núcleo urbano intensivo reconhecido legalmente em todo o Parque Estadual Delta do Jacuí. Nas demais ilhas, de forma disseminada, há o predomínio da atividade rural, cujas instalações sempre ocupando a periferia marginal mais elevada, se confundem com a vegetação. 

São característicos, desde a década de 50, os clubes naúticos nas ilhas Grande dos Marinheiros e Pavão, que atraem um grande número de pessoas, tanto pelas beleza naturais, quanto pela possibilidade de prática de esportes.

Chama atenção, ainda, por sua arquitetura e por destacar-se do perfil natural da ilha, o conjunto de prédios do antigo Paiol e da torre da Casa da Pólvora, testemunhos de um passado que cedeu nome à ilha. Edificações de interesse cultural, atualmente, estão sendo propostos para restauração com a previsão de abrigar, no futuro, atividades culturais e científicas, a cargo do órgão administrativo do Parque - Fundação Zoobotânica RS.